FIQUEI SEM LUZ
Caminho para casa num lusco-fusco quase noite, sob um céu azulado quase cinzento, por ruas estreitas quase sem gente. No ar ainda esvoaçam andorinhas procurando os insectos que, libertos dos seus casulos, se atrevem inocentemente a procurar os primeiros candeeiros acesos no crespúculo da Primavera/Verão. O céu vai escurecendo gradualmente e eu mantendo o ritmo lento da caminhada vou-me chegando ao aconchego dum ninho, algo exíguo, mas próprio para o meu tamanho. Não gosto da noite. Não gosto das sombras que ondulam pelas paredes na direcção contrária das luzes que correm na frente dos carros que passam. Não gosto das noites sem lua. Não gosto duma rua escura. Não gosto do que não vejo, do que não sinto nem desejo. Mas amo o silêncio no campo, dos anoiteceres de verão quando o tempo está morno e a lua ainda vem alta e os pássaros emudecendo pouco a pouco no abrigo das árvores que os acolhem, aguardam um novo dia. De súbito passa um morcego; é para ele a melhor hora do dia para caçar os insectos que o seu radar vigia. Chego a casa, entro e sou recebido pelo parceiro de sempre, o só, a minha companhia de muitos momentos, os bons, os maus e os outros. Se eu gostava de ter outra companhia que companhia me fizesse? Sim! Mas esta tem-me sido fiel por tantos anos, não quero nem posso perdê-la. Então, como disse ali acima, chego a casa entro e carrego no interruptor. E nada! Acciono o sacana do interruptor várias vezes, acima e abaixo, e nada. Interrogo-me: que raio se passa? No mesmo momento iluminou-se-me a mente: (frnhg*ss), fiquei sem luz!.