A CAMINHADA...
...que não parecia ter fim!
Por cada passo que dava mais passos tinha que dar.
E tinha mesmo que os dar. E dava. E caminhava cada vez com mais vontade, mas com mais vontade de desistir a cada passo. De cada vez com menos alento mas cada vez mais decidido, um pé depois de outro, teimosamente, determinado a chegar ao fim da “malvada” estrada onde árvores de espessas ramagens seriam uma bênção porque o sol abrasador era um tormento para qualquer viajante. Ainda assim dei por mim pisando-a. Não sabia as horas mas tinha a certeza que o meio dia “já lá ia.” Sentia os pés “em brasa” dentro de umas daquelas peúgas de algodão barato, enfiados nuns ténis de fancaria; os calções em tecido de reles imitação de caqui mantinham-me as virilhas e todo o “equipamento circundante” numa sauna permanente. A T-Shirt azul escura atada à volta da cabeça, cuja frontaria –a da t-shirt evidentemente- mostrava uma gaja desconhecida, nua, camuflada entre folhas de couve lombarda, servia-me de boné na falta de um verdadeiro boné.
Por isto o meu nada musculado tronco mostrava-se em toda a sua plenitude acima dos mencionados reles calções e até à base do meu “esbelto” pescoço.
Ao redor nem vivalma. Vacas, ovelhas ou cabras, nem uma para amostra. Nem pássaros piando se ouviam. Só o xrek xrek xrek dos meus passos sobre os grãos de terra e das minúsculas pedras arredondadas que compõem a estrada, era audível. Continuei caminhando, um passo após outro, com vontade de parar; porém desejando chegar ao fim. Ao fim desta estrada cujo fim não parecia ter fim! Por teimosia. Por vontade ainda que contrariado? Não. Por obrigação. Preferia ter continuado à sombra, deitado na cama de rede que me trouxeram do Brasil anos atrás. Porém a minha preferência nem sempre se acerta com a minha obrigação. E a minha obrigação era ter posto gasolina do depósito do carro, hoje de manhã quando fomos à praça comprar as sardinhas para o jantar. Mas não o fiz. Ponho à tarde, disse eu convicto de que a que restava dentro do depósito “ainda dava”…
Não deu!
E quando me disseram que faltavam os pimentos para a salada, e também a alface frisada, e o pão e o vinho…
Eis a razão porque estou caminhando nesta estrada que não tem fim, debaixo de um sol abrasador, com um jerry-can plástico de 10 litros a caminho da próxima estação de serviço para regressar e…
Acabo por aqui pois o resto já se adivinha: terei que “palmilhar” o percurso inverso e com o jerry-can carregado!