O VELHO DO CÃO AMARELO
Todos os dias e praticamente às mesmas horas passa na minha rua um ve-
lho e o seu cão amarelo. Conhecem todos os caminhos do bairro e caminham sem pressas, sem destino e sem horário a cumprir.
O velho apoia-se no cão para se obrigar a calcorrear todas as ruas e o cão “sente-se” na obrigação de o acompanhar, de o levar, de o obrigar a andar.
Assim acontece outro dia, e outro, e outro, caminhando ambos sem destino objectivo.
O velho, bastante velho e bastante gordo, caminha direito e em pequenos passos que as suas gordas e curtas pernas lhe permitem. O cão amarelo acompanha-o de focinho "no ar" como que cheirando algo interessante que só mesmo os cães sabem o que pode ser!
Simpático e abanando constantemente a cauda, aproxima-se sem receio de quem o chama aceitando uma festa, um carinho ou alguma guloseima, sem nunca se afastar do velho mais do que alguns passos.
Há quem diga que devia ser um bom cão de acompanhamento para deficientes cegos ou outros. O velho nem os ouve!
Há quem diga outras coisas. E o velho também não os ouve. Para ele pouco importa.
E o cão? Também não quer saber.
O que mais interessa a um cão? Ter onde dormir e onde comer!
Foi por isso que aceitou ficar com o velho, que no bairro é conhecido pelo “velho do cão amarelo”.
Durante dias deixei de os ver.
Estive de férias e os horários alteraram-se e… mas isso não interessa!
Interessante mesmo é que passados esses dias em que os não vi eis que hoje logo pela manhã e quando regressava a casa “dei da caras com eles”.
Ou melhor com um deles, porém com outro companheiro!
Estranhando perguntei:
-Bom dia! Então? Já há dias que os não vos via. Está tudo bem? Passou-se alguma coisa ou algum contratempo?
-Não!
-Não? Mas vens com outra companhia…
-Nada de mais pá. Mudei de dono, disse-me o cão amarelo!