O ESCRITOR...
...que não sabe escrever
não é velho nem é novo!
É alto e magro, de costas arqueadas olhando o chão parecendo andar procurando algo, de cabeça ovóide de onde se destacam umas enormes orelhas que tenta cobrir com os ralos cabelos (deixados alongar propositadamente), que lhe contornam o crânio, qual aureola de santo, deixando à vista uma careca bicuda e luzidia e sem quaisquer vestígios capilares.
A roupa parece ser sempre a mesma, escura, em diversos tons de cinzento, destacando-se do conjunto um cinto amarelo que mais lhe estreita a estreita cintura.
Nunca ninguém o viu usando chapéu, nem mesmo durante os dias frios de inverno quando as temperaturas são menos agradáveis, porque gosto de andar de cabelos ao vento…
Caminha constantemente ora pelas ruas estreitas da cidade antiga olhando as janelas de onde se soltam conversas e se prendem as roupas acabadas de lavar, ora pelas margens do rio visitando as docas e os bares onde marinheiros e pescadores se encontram, ouvindo-lhes as vidas navegadas por mares calmos ou revoltos, tendo em cada um uma fonte de inspiração, ora pelas largas e ruidosas avenidas da cidade nova onde vidas se cruzam sem, efectivamente, se cruzarem, ora pelos jardins onde –em bancos às tiras pintadas de verde- os novos namoram e os velhos adormecem.
Guarda tudo na memória e de tudo vai construindo um romance.
Já tem vários:
O Dog! O pick nick!, As 24 horas duma vida! Em direcção à nascente! Enfim, vários.
Todos acabados mas também prontos para serem continuados porque há sempre novas ideias que podem completar o que, aparentemente, já estava completo.
Completo mas não terminado, é o que sempre afirma.
Nos seus romances os finais são sempre bons.
Não importa os que aconteceu antes nem durante. Os finais têm que ser sempre bons. Bons e felizes! Ou engraçados que é mais uma forma de felicidade.
Porque, diz ele, a vida já é suficientemente difícil e até trágica e eu estou farto de tragédias. Os meus romances têm que ser bonitos e devem transmitir esperança e bem estar e terminarem como terminam; como eu quero; como eu os imagino!
Por isso continua caminhando na sua cidade, inventando o seu mundo onde todas as vidas são vividas na harmonia que ele próprio cria e quer!
Tudo vai ficando gravado na sua mente ao mesmo tempo que percorre o seu caminho, um caminhar que nunca acabará enquanto ele mesmo não acabar.
Tem, porém, um desgosto: não saber escrever, para escrever o que imagina.