O NOVE
Sem ser de propósito, escolhemos para casar um dia vinte e nove, de um ano terminado em nove. Podia ter sido num 28 ou num 30; mas não. Foi mesmo num dia 29!
Não sei, e tu também não sabes, a razão de o nove aparecer tantas vezes na nossa vida!
Conheci-te no mês nove, no dia nove, de um qualquer ano não terminado em nove. O nosso aniversário é também num dia nove, o teu com mais vinte dias: é a vinte e nove.
Lembro-me de nos termos encontrado a caminho da praia e de estares dentro de uma blusa branca decorada com motivos náuticos, uma saia azul, curta acima dos joelhos, olhos castanhos, o cabelo negro cortado curto, e os pés de dedos redondos enfiados numas chinelas brancas. Pendurado ao ombro o saco de lona (azul, pois claro), onde guardavas a toalha de praia e os cremes que raramente espalhavas pelo corpo, sempre com o argumento de:
-Não gosto de ficar peganhenta…!
Quando te perguntei porque os trazias encolheste os ombros e, rindo, respondeste:
-Sei lá?! Apeteceu-me…
Foi o teu riso. Foi essa tua forma de rir com uma gargalhada alegre e descontraída de criança a quem fosse descoberta uma traquinice, que me prendeu. Foi então que soube, que tive a certeza que não mais te deixaria. Como se fosse eu que mandasse…!
Porque viste em mim alguma coisa que eu nem suspeitava que tinha, “seguiste-me”.
Acredito que tenhas tomado uma decisão arriscada, mas que se tem mantido ora como numa montanha russa subindo e descendo, ora como num lago de águas calmas; ora em dias de fortes chuvadas e ventos agrestes mas também de noites cálidas e céus cheios de estrelas! Umas vezes caminhando calmamente e noutras andando “a nove”.
Embarcámos, confiantes, na casa de partida em direcção ao ponto de chegada... que ainda não alcançámos já que continuamos em viagem…!