Aquilo de rua só tinha mesmo o nome. Era menos que uma viela, de tal modo estreita que ao cruzarem-se duas pessoas facilmente se tocavam. O chão era totalmente calcetado com terra e algumas lages de cor ocre, e sempre cobertas de humidade já que os raios de sol nunca chegavam a tocar-lhe. Razão para isso era não só a estreiteza da rua mas também porque as casas, altas de mais ou menos cinco andares, impediam que o sol iluminasse abaixo do “terceiro” andar. As paredes cor de terra eram desprovidas de janelas. Vistas desde a calçada as casas pareciam quererem beijar-se lá no alto.
Junto a uma delas e preso numa argola pendurada da parede estava um sonolento burro, com os olhos meio fechados e “arreimado” à dita parede. Tenho a certeza que estava dormindo em pé.
A temperatura ambiente era agradável, se comparada com a do largo anterior onde o sol era rei escaldando o chão e as casas em redor.
Descendo a rua iam mulheres com cântaros à cabeça enquanto outras a rua subiam com outros cântaros; as primeiras com eles deitados porque ainda vazios enquanto que as outras com eles em pé, porque já cheios de água proveniente do poço que lá em baixo a providenciava para toda a aldeia.
Continuei descendo a rua até uma zona arborizada onde as palmeiras, carregadas de tâmaras, eram predominantes e onde se encontrava o poço a marcar o centro daquele oásis.
Sentados num enorme tapete e sob um ainda maior pano de tenda cuja sombra ultrapassava os limites do tapete, estavam alguns homens conversando (o correcto seria dizer: murmurando) enquanto fumavam (ou chupavam?) naquelas espécies de marmitas de que nunca sei o nome. Passei junto deles e ligaram-me tanto quanto às tâmaras que à vez caíam do alto das palmeiras.
É surpreendente o silêncio!, pensei enquanto prosseguia o meu caminho de regresso ao Hotel para num agradável ambiente de ar condicionado beber um chá de menta gelado.