A HORA DO PÃO
Eram três horas da manhã e o pão ainda não tinha saído do forno!
Todos em redor pareciam alheados, olhos mortiços mirando o vazio, sem quaisquer perspectivas futuras, como se dependesse do pão o seu próprio futuro.
E não seria assim mesmo? Sem aquele pão poderiam mesmo ter futuro?
Os próprios padeiros, encostados aqui e ali, olhavam o forno numa mistura de ansiedade, de conformação e de desespero por não verem o seu trabalho terminado, parecendo que o próprio forno lutava contra eles e contra o tempo que por norma já teria sido mais do que suficiente para cozer o pão que todos esperavam para uma primeira dentada a que outras inevitavelmente se seguiriam!
Alguns de entre os “esperantes” esboçavam movimentos indefinidos, denunciando o início do desespero ou a angústia que começavam a possui-los pelo tempo de espera inusual, bocejando a espaços, e estendendo os membros na procura de uma mais confortável posição preparando-se para mais alguns momentos de espera, acreditando serem poucos.
Subitamente a porta do forno range, estremece e com um pequeno solavanco entreabre-se ligeiramente deixando sentir algum calor misturado dum agradável odor a pão cozido, quente e tostado, que todos simultaneamente inalam; mas estacou! Nem mais um movimento!
Num salto todos os padeiros se precipitam para a porta do forno e não sem um certo esforço seguram-na e iniciam um movimento de recuo, puxando-a até ficar totalmente aberta, mostrando o interior avermelhado coberto por uma considerável quantidade de pães, redondos e achatados, tostados e de crosta quebradiça, que a todos esperavam para a primeira e única refeição diária.
Os olhos dos que esperavam, até aqui mortiços e ausentes, ganham vida; lentamente e dir-se-ia sincronizados, todos os iniciam gestos para se levantarem e aproximarem da porta do forno, sem pressas nem atropelos, sabendo antecipadamente que a pressa não só não lhes dará mais pão como lhes não proporcionará mais energias, antes pelo contrário; correrias mais pão lhes exigiria e sabem por experiência que isso não acontece nunca.
O dia do pão é sempre igual; a excepção é a hora a que fica pronto e nunca a quantidade que cada um deles recebe.