Aquilo de rua só tinha mesmo o nome. Era menos que uma viela, de tal modo estreita que ao cruzarem-se duas pessoas facilmente se tocavam. O chão era totalmente calcetado com terra e algumas lages de cor ocre, e sempre cobertas de humidade já que os raios de sol nunca chegavam a tocar-lhe. Razão para isso era não só a estreiteza da rua mas também porque as casas, altas de mais ou menos cinco andares, impediam que o sol iluminasse abaixo do “terceiro” andar. As paredes cor de terra eram desprovidas de janelas. Vistas desde a calçada as casas pareciam quererem beijar-se lá no alto.
Junto a uma delas e preso numa argola pendurada da parede estava um sonolento burro, com os olhos meio fechados e “arreimado” à dita parede. Tenho a certeza que estava dormindo em pé.
A temperatura ambiente era agradável, se comparada com a do largo anterior onde o sol era rei escaldando o chão e as casas em redor.
Descendo a rua iam mulheres com cântaros à cabeça enquanto outras a rua subiam com outros cântaros; as primeiras com eles deitados porque ainda vazios enquanto que as outras com eles em pé, porque já cheios de água proveniente do poço que lá em baixo a providenciava para toda a aldeia.
Continuei descendo a rua até uma zona arborizada onde as palmeiras, carregadas de tâmaras, eram predominantes e onde se encontrava o poço a marcar o centro daquele oásis.
Sentados num enorme tapete e sob um ainda maior pano de tenda cuja sombra ultrapassava os limites do tapete, estavam alguns homens conversando (o correcto seria dizer: murmurando) enquanto fumavam (ou chupavam?) naquelas espécies de marmitas de que nunca sei o nome. Passei junto deles e ligaram-me tanto quanto às tâmaras que à vez caíam do alto das palmeiras.
É surpreendente o silêncio!, pensei enquanto prosseguia o meu caminho de regresso ao Hotel para num agradável ambiente de ar condicionado beber um chá de menta gelado.
Também estiveste lá? Encontrei o burro com ar entediado ou sonolente. Não sei bem se padecia de uma, ou de ambas as situações. Os homens continuam agachados como se nada houvesse a tratar e o tempo fosse para gastar em conversas. Todos encostados às casas, no único lugar em que o sol fazia intervalo junto às paredes e portas. As mulheres, continuvam em marcha. Nunca as vi paradas. Talvez seja do hábito de fugir do sol. Ou então, são levadas pelo espírito nómada de antepassados. Quanto às Tâmaras? Estão verdes, ainda. Amadurecem, lá para Novembro. Cabras. Havia muitas. Erva? Nenhuma. O sol, acredito que seja o mesmo. Quente, seco e luminoso demais para os meus olhos acostumados à luz artificial. Não volto hoje ao hotel. Essa parte acabou. Hoje sento-me aqui, entre papeis e números, mais monótonos e repetidos que os sons dos cantares e dedilhar de guitarra (ou algo parecido) que nos saudavam e "animavam" os nossos jantares........
Estive de facto pelos fins de Novembro de 2008 e mesmo assim quando ainda o Sol tem bastante peso. E, apesar do meu interesse e da minha curiosidade por estas paragens, não fiquei cliente. É estranho, dirás tu, atendendo a que sou algarvio e todos os meus antepassados (que eu saiba) tinham raízes do norte de África. Mas é assim; no meu caso é um lugar para ir uma vez e... "tá feito". Agora de volta aos (teus) números sem cantorias terás que inventar outros sons. Da próxima viagem bem poderás escolher entre Óbidos ou Mirandela. Menos exótico mas mais acolhedor. Beijos com
Pois é verdade a tua 1ª sugestão não a consigo ver mas a 2ª sim, a cabras empoleiradas no "petisco". Foi condimento que nunca provei nem sequer em creme! Beijos barrados com sorrisos